SÃO PAULO (Reuters) – A cooperativa de crédito Sicoob iniciou a safra 2022/23 com a expectativa de movimentar 41 bilhões de reais em operações de financiamento de produtores rurais, mas acaba de rebaixar sua projeção para 37 bilhões de reais, com uma queda nas linhas para investimentos em meio a um esgotamento nos recursos repassados pelo BNDES.
Além da seca na região Sul e do recuo no preço de algumas commodities como o café, tem pesado sobre a decisão de investimentos do produtor a falta de recursos subsidiados pelo Plano Safra e as suspensões de linhas de crédito pelo BNDES, disse à Reuters o superintendente de negócios do Sicoob, Luciano Ribeiro.
“Os investimentos recuaram muito em relação ao que se tinha de intenção no início da safra. Os produtores só estão fazendo aquilo que não se pode adiar, que impacta a produtividade e ele não pode deixar de fazer”, afirmou o executivo da Sicoob, uma das principais instituições de crédito ao agronegócio, que atua mais junto a pequenos e médios produtores.
Com isso, avanços com ampliações em capacidade de armazenagem e melhorias nos parques de máquinas estão ficando para depois, após produtores brasileiros terem enfrentado um aumento de custos com insumos na safra atual que apertaram as margens.
Os recursos para investimento somaram cerca de 3,5 bilhões de reais, queda de 18% em relação ao mesmo período do ciclo anterior.
“Os recursos do BNDES se esgotaram muito rapidamente e, com isso, o investimento que esperávamos não se confirmou… isso fez muita falta para a gente performar”, disse Ribeiro.
Devido ao nível de comprometimento de recursos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) suspendeu contratações de novas operações de crédito no âmbito dos Programas Agropecuários do Governo Federal (PAGF) no segundo semestre de 2022.
Em janeiro, a instituição comunicou a reabertura das linhas de crédito rural que haviam sido interrompidas, com oferta de 2,9 bilhões de reais para financiamento da safra 2022/23.
No entanto, onze linhas de crédito foram novamente suspensas pelo BNDES, disse a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) em nota na última semana, citando um documento do banco. Procurado pela Reuters, o BNDES não respondeu de imediato a um pedido de comentários.
Dados do Ministério da Agricultura mostram um crescimento menor nos desembolsos para investimento na safra atual, enquanto o crédito para custeio disparou, em meio a custos mais elevados.
No total, o desembolso do crédito rural no Brasil chegou a 222,8 bilhões no Plano Safra 2022/23 até janeiro, aumento de 21% no comparativo anual. O custeio representou a maior parcela com 136,6 bilhões (+41%) e o investimento respondeu por 59,8 bilhões (+2%).
Apesar deste cenário, caso o Sicoob consiga atingir a expectativa de 37 bilhões de reais liberados aos produtores na safra atual, o número ficará acima dos 23 bilhões registrados na safra de 2021/22.
Seriam 68% para custeio, 16% para investimento, 7% para comercialização, 5% para industrialização e 4% em CPR-F.
“A nossa estratégia de aumentar o atendimento em algumas praças seguiu firme e aumentamos onde queríamos”, disse Ribeiro.
Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul eram Estados em que a instituição financeira cooperativa não tinha presença forte e conseguiu expandir sua atuação nesta safra em 90%, 60% e 33%, respectivamente.
Em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, o Sicoob já era importante banco cooperativo e também conseguiu aumentar a atuação em respectivos 49% e 43%.
Além disso, a liberação de crédito acumulada nos sete primeiros meses da temporada para comercialização atingiu 1,2 bilhão de reais, versus 510 milhões um ano antes.
Houve também crescimento no financiamento para industrialização: na safra passada foram liberados 170 milhões de reais e nessa, até o momento, 890 milhões.
Fonte: Istoé